Repressão, tortura, violação dos Direitos Humanos, execuções, abuso de autoridade… Muitos brasileiros acreditam que essas arbitrariedades ficaram restritas ao período da ditadura militar (1964-1985) e até demonstram simpatia e solidariedade pelas vítimas da repressão daquela página infeliz da nossa história, como cantou Chico Buarque, seja lendo livros ou assistindo a inúmeros filmes sobre o tema.* É um capítulo muito recente de nossa história e assunto que desperta várias paixões – uns se posicionam contra e também há os que são a favor (e alguns pedem até a volta do regime).
Infelizmente toda aquela violência não ficou restrita aos presos políticos; foi exercida praticamente ao longo de toda a história do Brasil contra os mais pobres e infelizmente ainda hoje faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros.
Como acontecia naqueles tempos, muitos hoje ignoram ou escolhem não ver ou se importar com as atrocidades que acontecem em nossas favelas, comunidades pobres em geral e presídios. Conceitos como pacificação, intervenção militar, remoções, redução da maioridade penal servem para camuflar e vender melhor para a sociedade uma política que há tempos extermina nosso povo e escolhe como vítima preferencial jovens negros e pobres das periferias do nosso país.
Se esses crimes existem – em parte é por cumplicidade de uma parcela significativa da sociedade, inclusive entre os pobres; alguns por ignorância e também há aqueles totalmente conscientes da escolha que fizeram. O que fazer para mudar a situação? É um trabalho de formiga que passa pela educação, conscientização da população, entender o que são de verdade os Direitos Humanos e que o acesso à saúde e à educação também são DH fundamentais. Para nossa classe política é importante que continuemos mergulhados na ignorância e vulnerabilidade, mas nem tudo está perdido. Existem inúmeras formas de resistência nas favelas: cidadãos conscientes dos seus direitos que se levanta contra as injustiças. A luta é árdua e às vezes parece não haver luz no fim do túnel, mas olhando para trás muito já foi conquistado. E continuemos na luta por uma sociedade verdadeiramente mais democrática.
*Alguns filmes sobre o tema:
Batismo de Sangue
Zuzu Angel
O Que É Isso, Companheiro?
CARLOS MAIA
Ator, diretor Cinematográfico
Dançarino, Jornalista…
morador da Rua Frei Miguel